The Great Conversation: Preface

Este texto resume os pontos mais importantes do prefácio do livro “The Great Conversation: The Substance of a Liberal Education“, de Robert M. Hutchins, publicado como Volume 1 da coleção Great Books of the Western World, pela Enciclopédia Britânica, em 1952:

No prefácio do livro, páginas xi a xxvii, Hutchins nos explica a importância de resgatar a leitura de grandes livros do passado na educação, entendimento e resolução dos problemas do presente. Também explica as decisões editoriais quanto à escolha de quais livros incluir na coleção Great Books of the Western World.

Como esse prefácio é uma leitura introdutória importante, principalmente para quem está iniciando a leitura dos Great Books, decidi resumir aqui os principais argumentos de Hutchins.

Note que nada do que se segue é um pensamento original meu mas, do autor, Robert M. Hutchins. Eu apenas resumi o que entendi de seu pensamento em poucos parágrafos e de modo objetivo. Sugiro a leitura do original caso o resumo abaixo lhe interesse.

Por último, me permito um deslize acadêmico: como as idéias abaixo não são minhas, são de Hutchins, eu deveria citá-lo várias vezes nos parágrafos abaixo. Mas isso tornaria o texto absolutamente repetitivo e enfadonho: “segundo Hutchins”, “de acordo com Hutchins”, “Hutchins acredita que”… Para evitar essa repetição, fica aqui, desde já, avisado que apesar de não referenciar Hutchins abaixo, o pensamento e o que eu aprendi a seguir é de Hutchins.

1. Por que os Great Books?

O caminho para a educação liberal no ocidente, historicamente, sempre foi através da leitura de grandes livros, os “great books”, que são as melhores criações escritas, as obras-primas da civilização ocidental. Nenhum homem poderia ser considerado educado se não estivesse familiarizado com essas obras.

A negligência com os autores antigos e o desaparecimento desses livros na educação, a partir do início do século XX, é uma aberração, uma calamidade, que contribuiu para que a educação ocidental se deteriorasse e para que a própria civilização ocidental mergulhasse rapidamente em um abismo moral, intelectual e espiritual, apesar da grande riqueza e conforto material obtidos no século XX.

A leitura e estudo dos Great Books deve ser resgatada por todos que objetivam alcançar a educação liberal pois esses livros:

  • Nos permitem encarar os problemas do presente com a sabedoria acumulada nos trabalhos dos grandes pensadores do passado;
  • Nos mostram as origens de muitos dos nossos problemas atuais, jogando luz sobre vários de nossas dificuldades mais básicas;
  • Podem nos ajudar a restaurar a sanidade do ocidente, a viver melhor;
  • Nos dão um melhor entendimento sobre nós mesmos através da compreensão de nossa tradição;
  • Representam e transmitem o espírito e o hábito mental do ocidente, algo que foi eliminado da educação atual;
  • Nos fornecem um padrão-ouro de qualidade indubitável a partir do qual podemos julgar outros livros e autores; e
  • São os melhores instrumentos educacionais para a educação liberal de jovens e adultos.

2. Como os Great Books foram escolhidos?

Para escolher os Great Books que estariam na coleção Great Books of the Western World, as seguintes decisões foram tomadas:

  1. O livro deveria ser absolutamente essencial à educação liberal e essencial ao Grande Diálogo da civilização ocidental. A Bíblia não foi incluída na coleção (como um exemplar impresso) simplesmente porque a maioria das casas já conta com um exemplar e seria desnecessário então imprimir novamente;
  2. Os livros deveriam ser organizados por ordem cronológica, para dar ao leitor uma visão de evolução do Grande Diálogo;
  3. Os livros representam mais de 25 séculos do Grande Diálogo, até logo antes de 1900. A omissão de livros a partir de 1900 se deu por dois motivos: a proximidade com a obra limitou a perspectiva do impacto do livro, e ainda não é possível julgar adequadamente o mérito de obras contenporâneas;
  4. Livros e autores contemporâneos foram sugeridos como leitura adicional, no Syntopicon, para que o leitor interessado;
  5. Os autores a serem incluídos deveriam ser as vozes mais importantes no Grande Diálogo, independentemente da língua em que escreveram suas obras;
  6. Bons autores como Emerson, Whitman, Thoreau e Mark Twain foram omitidos porque, apesar de terem levado adiante o Grande Diálogo, não são indispensáveis à compreensão dele;
  7. Alguns autores que deveriam fazer parte da coleção não puderam ser incluídos pois a contribuição ao Grande Diálogo repousa na totalidade de sua obra, e não em obras específicas. Esse foi o caso de Leibniz, Voltaire e Balzac;
  8. A coleção traz a obra completa de todos os autores, exceto três: S. Tomás de Aquino, Kepler e Fourier. Para esses três autores, somente as obras mais essenciais estão contempladas pois, dado a extensão de seus escritos, seria impossível incluir tudo.
  9. Todos os dogmas e pontos de vista do Grande Diálogo da civilização ocidental estão representados, incluindo seus erros e acertos. Cabe ao leitor determinar quais são os erros e acertos pois essa é a tradição ocidental nas mãos de homens livres;
  10. As grandes obras da ciência foram incluídas (Newton, Euclides, Arquimedes, Copérnico, Kepler, Pascal, Lavoisier, Fourier, Faraday etc.) pois os avanços da ciência moderna não invalidam o pensamento dos grandes cientistas do passado (mesmo que os corrijam pontualmente) e o entendimento dessas obras é fundamental para a compreensão da ciência de hoje. Além disse essas obras-primas não estão escritas em linguagem “científica” moderna, ou seja, não estão repletas de jargões técnicos, ao contrário: elas estão escritas e embasadas no uso refinado e preciso da linguagem comum, com estilo literário extremamente elegante, dizendo exatamente o que era preciso dizer;
  11. Nenhum artifício didático deveria ser incluído, ou seja, não haverá introduções, explicações, esclarecimentos ou notas adicionais. Os Great Books devem falar por si mesmos; e
  12. O Syntopicon, de autoria de Mortimer J. Adler, será o meio de auxiliar o leitor a encontrar caminhos através dos livros, e será uma ferramenta de referência, pesquisa, estudo e resumo preliminar das Grandes Idéias que foram objeto de debate no Grande Diálogo. O Syntopicon indica onde estamos, onde concordamos e discordamos, onde estão os problemas e onde é necessário mais trabalho.

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